terça-feira, 24 de junho de 2008

Super Santos Populares


Em junho, os assuntos mais comentados são aqueles relacionados às Festas dos Santos Populares. Ok, talvez a Eurocopa esteja empatada este ano, mas, enfim, já dá pra ter uma idéia do quanto Santo Antônio, São João e São Pedro são bem vistos por aqui. Os três são os padroeiros de Lisboa, Porto e Sintra, respectivamene. As comemorações acontecem nas madrugadas dos dias 13, 24 e 29.

Aqui vale um parêntese do tipo ‘Saiba que...’ de canto de página de livro didático: o padroeiro de Lisboa, na verdade, é São Vicente, mas parece que não há grandes comemorações no seu dia...
Bueno, talvez o pobre não fosse tão carismático quanto o Antônio. Com todo o respeito.

Daí que perdi a conta do número de vezes em que ouvi frases do tipo “Essa é a melhor noite do ano em Lisboa”. De fato, a noite se transforma. Um mar de gente se espalha pelas ruas desiguais da capital portuguesa, que a essa altura já costuma estar com temperaturas agradáveis. O ponto mais importante da festa é a apresentação das Marchas Populares, as paradas realizadas na conhecida Avenida da Liberdade. Os bairros lisboetas competem entre si pelo desfile mais belo e animado. As fantasias e coreografias podem ter relação ou não com o bairro em questão. Em 2008 a vencedora foi Marvila.

(Sim, amigo brasileiro, eu também lembrei do Carnaval. Sim, eu também lembrei do Sambódromo. Mas, não, não rola um sujeito narrando as notas ao estilo “Es-ta-ção Pri-mei-ra de Man-guei-ra: dééz”.)

No fim das marchas, as pessoas continuam nas ruas, bebendo cerveja e comendo sardinha até que a energia se esgote (ou a bebida acabe, o que vier primeiro), principalmente em regiões mais antigas da cidade, como Alfama. Os jovens são grande maioria. Tanto portugueses quanto estrangeiros interessados na ‘melhor noite de Lisboa’. Há música por todo o lado e alguns grupos de dança tradicionais aproveitam para se apresentar.

Mas, é com lágrimas nos olhos e água na boca que reafirmo que, pra mim, festas juninas e afins sempre serão sinônimos de salsichão com farofa e churrasquinho com molho à campanha. E tenho dito!

Ahh, logicamente, sendo o bom e velho Santo Antônio conhecido pela capacidade de unir casais, um outro evento tradicional é o casamento coletivo, que acontece na Catedral da Sé de Lisboa e é promovido pela prefeitura no dia anterior.

domingo, 8 de junho de 2008

Men (and women) in black


E então que é dia do estudante às quintas-feiras. Numa primeira observação, nada de diferente acontece por isso. A não ser o uso dos curiosos trajes. Curiosos, logicamente, para mim, que não entendia o porquê de - do nada! - algumas pessoas estarem andando de preto pela faculdade.

Os trajes fazem parte da tradição acadêmica, algo bastante respeitado em grande parte das instituições daqui, especialmente as mais antigas. As universidades possuem uma ou outra diferença, mas as semelhanças são evidentes, sobretudo para leigos e recém-chegado.

A origem do traje vem das indumentárias religiosas, compostas por uma capa e uma batina. Convém lembrar que até o século XVIII era a Igreja que detinha o monopólio do ensino através da Companhia de Jesus (aula de história, ensino fundamental). Na verdade, hoje em dia os trajes são mais usados em dias de festas e afins...

Só quem está autorizado a usar um traje acadêmico é o veterano. Isso porque quem acaba de entrar na faculdade ainda é um simples ‘caloiro’, sem direitos, sem respeito, sem nada (e qualquer semelhança é mera coincidência). As regras e as peças - tanto para homem quanto para mulheres - são muitas, mas nem todas seguida.

Em cada traje existe uma quantidade de emblemas (símbolos) com uma hierarquia muito bem definida (o símbolo da cidade vem antes do símbolo da universidade e tal). E não é permitido usar acessórios e elementos que chamem atenção. Pinturas, brincos e pulseiras jamais (adorei!)... A idéia é que todos os ‘trajados’ estejam o mais uniformes possível.

Outro detalhe importante diz respeito à capa. Devem ser dobradas cuidadosamente, seguindo alguns princípios. Quando usada sobre os braços, a dobra deve parecer um rabo de bacalhau. Quando usada nas costas, o número de voltas tem a ver com o número da matrícula, com os anos de faculdade ou coisas do tipo. E o dono não deve se separar dela. Dizem até que em alguns lugares as capas não podem ser lavadas.

Confesso que ainda acho bastante pitoresco um grupo de estudantes vestidos de negro de cima a baixo, com uma capa dobrada no ombro. Principalmente quando está quente e a maioria das pessoas ‘não tradicionais’ e/ou ‘não acadêmicas’ está suando e se abanando. Nessas horas, por vezes minha estranheza dá lugar a quase uma admiração. Uma espécie de “eita, mas que disposição, amigo!”.

(Agradecimentos ao super prestativo estudante Carlos, segundo o qual “não há um pai sequer que não tenha orgulho em ver o seu filho trajado”)